Eu tenho muito pra falar do sono. Talvez até devesse dar uma passada naqueles institutos que te enchem de eletrodos e te oferecem uma cama macia para análise – ronco com desculpa médica. Como em “entre tapas e beijos”, fico naquela de que seria muito legal passar a vida dormindo, assim como não reclamaria nem um pouco se não precisássemos ficar lá não sei quantas horas de olhos fechados. Ambas resolveriam meus conflitos.
– pausa pra alertar dos problemas de escrever sobre o sono: são tantos fatores envolvidos, que possivelmente jogarei ideias que vou lembrando. Na agonia de saber por onde começar e pra onde ir, vejo que o sono é mó brother mesmo e uma dr via instituto dos eletrodos e das camas macias poderia ser uma boa. Existe psicólogo de sono? E sinônimo?
Highlights: dormi no quartinho transformado em estúdio de ensaio numa antiga casa enquanto meu irmão fritava o John Bonham na sua bateria cor de vinho. Como esquecer daquele outro dia em que sai andando sonâmbulo pelo corredor, abri umas portas e armário e balbuciei umas palavras antes de deitar de novo? Ou aquele outro quando tentei abrir a janela, num ataque de calor noturno? Dormir falando ao telefone e ainda inventar uma desculpa idiota pra fingir que não – tô aqui olhando pro teto (tá dormindo, malandro, admite). E acordar perguntando perguntando “qual é o tom”. Ir com um tênis de cada cor pra escola também é boa.
Teve um tempo que dormir cedo era o difícil. Minha mãe me chutava às 6h30 da manhã pra ir pra escola e pronto. Nada que um banho em estado zumbi e uma hora de mau humor não resolvessem. Ter que deitar logo quando o dia parecia mais produtivo era osso. Gostava de ter a casa silenciosa e escura, dos rangos noturnos, do computador sorrindo pra mim e do violão velho (e do sono pesado de toda a minha família, que não se incomodava com o barulho). A soneca pós video show equilibrava eventual déficit.
Agora que 8h já é madrugada e não tenho que acordar muito cedo pra nada, o problema virou – não consigo acordar cedo pra nada. E por cedo, entenda o período da manhã. O mais engraçado é o idiota aqui enganando o idiota aqui. Amanhã tenho que levantar às 10h. Passo na academia, ligo pro cara do computador, separo as roupas velhas do armário. Programo despertador pras 9h, uma hora antes do necessário, afinal, abrir os olhos e levantar é uma atitude heroica demais. E dá-lhe snooze. A partir do TRIM TRIM TRIM entro no estado de consciência 2, quando sei que preciso acordar, acho que já tô acordado, repenso a “agenda”, chego à conclusão que dá pra dormir um pouco mais e já era. E imagine isso como um ciclo que se repete continuamente e randomicamente. E diariamente. Levanto meio dia, me sentindo um idiota porque fui enganado de novo e jurando que vai ser diferente. Até por birra do “eu tenho que conseguir”.
Parágrafo inteiro pode ser dedicado às formas de (tentar) driblar minha extrema dificuldade de sair da cama. A nova é a combinação de celular, o barulho mais irritante possível, com aqueles despertadores velhos com dois sininhos, programado para a hora limite (não tem snooze), eventualmente acompanhados do recado na geladeira: me acordem às 10h. Sou profissa, converso, respondo que já tô acordado. Zeca Pagodinho pode ter umas aulas de malandragem comigo. Antes que alguém diga, aliás, não adianta colocar o produtor do barulho infernal longe da cama. Afinal, qual é o problema em levantar, desligar a parada e voltar pro aconchego do manjericão – o colchão e o travesseiro na posição perfeita? Tv que liga sozinha no último volume também dá uma força. Nada funcionou tão bem, ainda tô em busca do melhor esquema.
– mini irritando fernanda young: acordar com cócegas ou com gente puxando as cobertas.
Já falei que a claridade não incomoda? E que 14 horas de sono não impossibilitam outras 12, separadas por 8? ou 6? O negócio aqui é outro nível.
A tática de hoje mudou. Já sei que não vou acordar muito cedo amanhã (são 4h31). Só estou me convecendo de que usar esse tempo da madrugada já me livra o peso na consciência por ter dormido a manhã toda. Sacada de gênio. Você faz exatamente o que faz todos os dias, mas dessa vez tem a certeza de que virou um ser humano melhor.
Acho que não vai dar certo.