Monthly Archives: October 2009

Temos um telefonema. alô?

Fixo. Um net fone. Celular. Acabei de baixar o skype, mais para teste.

Eles estão entre nós, já era. Mas ô aparelho do diabo. Nunca fui grande fã dos telefones, não sei se consigo explicar o porquê. Uso com certa frequência até, por pouco tempo, naquele esquema “tô saindo”, “pode descer”, “qual é o número mesmo?”, “deu certo a parada?” e só. Conversas longas são raras, mas até que aparecem vez ou outra. Meu maior problema é com a burocracia. Sabe aquela história de atender ligação que não é pra você? Ou ter que dar oi, descobrir quem está falando, fazer umas piadinhas pra enfim perceber que não sei quem tá no banho? Xô.

Nunca atendo o telefone aqui em casa, sei que não vai ser pra mim. Alguém pode achar graça em ficar papeando no random, sem assunto, com uma pessoa que você não esperava. Defendo os celulares, que deram um adianto, cortaram os intermediários e os desencontros. Quem vai me ligar, geralmente usa o número do celular, e pra eu discar o número de um telefone de casa é porque a coisa está feia. Posso desencanar também no net fone?

Foi mal tios que curtem fazer vozes, enganar e falar de futebol. Sei que, no fundo, vocês só procuram minha mãe. Ir até o telefone só para ser ser o portador das bad news não parece animador. De quebra, ainda evito os vendedores de planos incríveis do cartão de crédito e os sérios que perguntam pelo responsável pela residência. Mas não preciso encarar esse meu desapego com tanta frequência; no final, falo com pouca gente.

Os telefonemas (quem diria?) me deram muitas alegrias essas últimas semanas.

Primeiro, teve a japa falando inglês procurando qualquer pessoa do departamento de marketing. Nada como receber um “he-rô” seguindo o seu alô despretensioso

Depois, a moça que insistia que tinha discado pro sesc pompeia.

(…)
– Mas eu liguei semana passada. Preciso do sinal do fax
– desculpa, mas disse que aqui não é o sesc pompeia.
– Não, eu liguei, era esse número. é do sesc pompeia.
– mas aqui não é o sesc pompeia
(…)
– mas aqui não é o sesc pompeia
(…)
– mas aqui não é o sesc pompeia

Um cara ligou de um interiorzão de Pernambuco dizendo que era do jornal não sei blabla, estava sem internet e precisava que eu confirmasse os horários de reprises de uns programas. Errado ele não estava, mas curti a parte do “estamos sem internet”.

Fora o outro que ligou pra tv essa semana – a história não é minha – pedindo pra participar do Barraco Mtv que estava no ar. A reprise fazia parte da programação especial de aniversário, o programa tinha sido exibido faz uns 10 anos. A Soninha apresentando, o Tiago Leifert “estudante de jornalismo” e propaganda de bip motorola. Fora o visual velhão. O gênio não percebeu que era antigo, viu o número – que continua o mesmo – na tela e ligou.

“poxa, que pena que eu perdi, queria tanto falar sobre esse tema”.

decidi instalar o skype pra ver se pego mais uma ligações desse tipo também.
(e bip, cara, bip…)

Os homens placa invadiram a cidade

Segunda-feira, feriado. Enquanto os paulistanos tomam sorvetes e admiram as ondas de Ubatuba, São Paulo é invadida. Milhares de homens placa saem de suas casas bem cedo, penduram setas indicando maravilhosos prédios em construção e se posicionam em esquinas estratégicas para apontar o caminho da felicidade, da casa dos sonhos.

Estávamos acostumados com os banners de ofertas exageradas dos prédios lindos com churrasqueira na varanda. Nos finais de semana, pipocavam essas propagandas pela cidade e era bem fácil topar com gente balançando bandeiras coloridas em frente aos estandes com “corretores no local”. Apartamentos decorados, maquetes, vendedores piadistas: era claro que nossos filhos viveriam contentes em qualquer condomínio daqueles.

Foi o Kassab aprovar a Lei Cidade Limpa para o mundo dos sonhos desmoronar. Raspar a cabeça pode? Não. Colocar placa de prédio pode? Também não. Ferrou. Os lindos imóveis estavam lá a nossa espera, mas não tinha jeito de nos avisar disso. Esperto, o senhor Tecnisa teve uma ideia: pega um mano daqueles do “compra-se ouro”, troca a placa dele, tira do centro e joga em Perdizes. Você topa, sr vende ouro? Topo, topo sim, por que não? Vamo cair pra dentro.

E agora é assim, tudo voltou ao normal, podemos novamente encontrar a morada do sonhos. E mais do que placas tristes e solitárias, agora elas são personificadas. Tipo amigos indicando o que vai ser melhor pra gente. Não há profissão mais altruísta, o cara fica ali só esperando para ajudar alguém, dar o caminho. Um pastor do mercado imobiliário.

Mas esse não é um trabalho fácil, minha gente. Virou de lado pra ver uma gostosa? Olhou pra trás porque ouviu uma buzina? Abaixou para amarrar os sapatos? Pronto, indicou a rua errada. Pelo menos dá pra ficar balançando a placa de um lado pro outro, pra fazer as 10 horas de turno passarem rapidamente.

Sério, pagar 20 reais pro mano passar a tarde segurando uma seta é brincadeira de péssimo gosto. E é claro que todos eles ficam com uma cara de merda olhando pro nada, em contraste com a oferta dos sonhos que penduram no pescoço. Imaginava morar nesse prédio tão maravilhoso que contrata gente fudida pra ganhar 20 reais e passar a tarde tomando sol com uma seta vermelha gigante na barriga? Imaginava, imaginava sim. Depois dos remédios e dos cosméticos, o peta que me perdoe, mas façamos essa maldade com os animais. Amarra o cachorro na esquina, veste uma roupinha engraçadinha com a propaganda e pronto. Deixa o homem placa ir pra Ubatuba.

Como homenagem, aqui vai uma galeria de fotos que juntei desses personagens heróicos.

“Graças a Deus, né?”

Tenho a impressão que ateus e agnósticos crescem em número a cada dia.

Quando eu era menor, pensava que todo mundo era religioso. Pensava que até eu era religioso, afinal fazia catequismo e primeira comunhão e tudo isso. Tudo bem que isso rolava imediatamente antes do treino de futebol e eu admito que eu pensava mais na belas jogadas que eu tentaria por em prática em quadra do que na ressureição.

Mas depois fui me esquecendo disso, percebi que na real eu não era nada religioso. Entendo que crer em algo superior a todos nós é uma necessidade humana quase inerente a nossa existência. Entendo que acreditar piamente em algo, dar um salto de fé, é a receita para um certo alívio imediato sobre as questões que não sabemos responder, mas ao mesmo tempo é tudo muito sem sentido, bate de frente com qualquer lógica com a qual possa concordar. Não compro a ideia de religião, assim como não compro a ideia dos placebos e dos remédios homeopáticos. E é quando percebemos que tem um monte de gente que pensa igual.

Não quero fazer parte dos que são anti-religião, porque isso é idiota. Mas muito me parece que as pessoas cada vez mais estão de boa com tudo isso. É só uma constatação, uma conclusão que me parece óbvia, mas pode não ser, não sei.

Não tenho problemas com a religiosidade das pessoas, não fico tentando convencer que a Igreja é coisa inventada pelos homens, que ela é mais uma parada de controle de massas que qualquer outra coisa, não prego que todos os padres são pedófilos, que JC não existiu, que estamos sozinhos aqui, nem nada.

Cada um tem a sua fé e ok, assim nós vamos. Mas admito que algumas poucas coisas me incomodam nisso tudo de Deus e o Diabo na terra do sol.

Logo que eu passei no vestibular estava em alguma festa. Era parabéns pra lá, parabéns pra cá, até que alguém me abraça e fala “Ah, você passou no vestibular? Graças a Deus, né?”. Poxa, não sabia que eu canalizava essa parada de O Todo Poderoso em mim. Desculpa ai, mas não foi Deus que marcou A, B, C, D ou E nas cento e poucas questões não. Vou ser pouco modesto dessa vez e falar que esse trabalho foi todo meu mesmo.

É a mesma coisa quando as pessoas te cumprimentam e falam “Amém”. Fico muito sem saber o que fazer nessas situações. Não quero falar “Amém” de volta sendo que não curto a parada. Mas se eu não falo a pessoa pode achar que preciso de um exorcismo ou me achar do mal e mal educado? Sei lá. É tipo quando você encontra alguém e não sabe se cumprimenta com um beijo ou um aperto de mão ou um tapinha nas costas.

Assim como não gosto de estar em igrejas. É tudo muito bonito pra alguns, mas pra mim não rola. Não gosto de vitrais e das cores loucas que eles fazem a luz ficar, não gosto de ajoelhar, sentar e levantar toda vez que alguém em um palquinho me pede para fazê-lo, mas principalmente, não gosto de pessoas crucificadas de 20 metros pintadas sobre a minha cabeça.

Foi mal, J-man, sei que você é O cara aparentemente, mas eu não gosto de ficar olhando pra você, não me leve a mal.

Texto: F. Garrido

Fazer rir

O que é ser legal? O que te torna relevante para o mundo, para as pessoas ao ser redor? Sim, isso é uma discussão idiota e infrutífera, tipo tentar descobrir o sentido da vida ou qual a definição de arte. Mas ok, isso não tira a graça de discuti-la mesmo assim.

Não sei o que me torna legal, não sei o que te torna legal, não sei o que me faz querer ver as pessoas que eu quero ver, mas desconfio que seja o potencial de ser engraçado delas. What the fuck? Explico.

Fazer rir é muito mais difícil que fazer chorar. Palavras machucam e fazem pessoas sofrer, é fácil articular alguma frase cruel pra fazer alguém ficar na bad forte no mesmo momento. Mas fazer/falar/pensar em alguma coisa realmente engraçada é infinitamente mais complicado.

Existem aquelas pessoas que contam piadas, daquelas que começam com “tinha um português, um japonês e um brasileiro em um avião…”. Mas esse tipo de piada nunca será engraçada. Já não gosto de você por contar essa piada, desculpa. Não existe nada pior que piadas prontas, sério mesmo. Saber contar piadas não torna ninguém realmente engraçado, como pensa a maioria das pessoas.

É bom fazer pessoas rirem de verdade com alguma boa história, com alguma boa tirada. Causa uma boa sensação dentro de você. E esses momentos de gargalhada não são tão comuns assim. Claro que existem pessoas e pessoas, umas mais felizes que outras, umas que riem muito mais que outras. Mas rir sempre é uma coisa, rir de verdade, de gargalhar e chorar de rir são outras.

Não sei o que procuro em pessoas, não sei o que de fato me faz gostar de alguém. Mas a capacidade de me fazer rir e gargalhar, seja com boas histórias ou um jeito curioso de fazer as coisas, é o que pega logo de primeira, eu acho.

Senso de humor diferenciado é o maior afrodisíaco que existe. E gargalhar é o orgasmo das boas conversas.

Texto: F. Garrido