Monthly Archives: June 2009

Michael ferrou o futebol.

Chegando hoje no trabalho, percebi que algum grande evento tinha acontecido. Guardinhas da cet interditavam ruas movimentadas, o trânsito piorava a cada minuto e tive que estacionar numa vaga muito longe. Pude ver que o epicentro da muvuca tava bem ali na direção em que eu tinha que ir. Foi passar pelo ponto de taxi para ouvir as novas; os bombeiros tentavam apagar o incêndio numa árvore encostada em um monte de fios elétricos – a chuva só deixava o cenário mais curioso. Assim que cheguei na minha mesa, não se falava de outra coisa: era impossível estacionar e a árvore em chamas parecia mais uma árvore fumante (ninguém viu fogo). Até quem perdeu a hora no almoço tinha uma desculpa boa para o atraso. Era o acontecimento do dia.

Não, não era. Às 7 da noite, só se falava de outra coisa, tinha morrido o cara de Billie Jean, the one who will dance on the floor in the round. Pior que não foi assim “morreu e pronto”. Foi “tá quase, subiu no telhado, deve ter morrido, CNN acha que não, ah, tá em coma”. Na real, já tinha esticado as canelas finas e brancas, mas faltava alguém confirmar direito. Imagino o clima nas redações das grandes agências, matérias prontas, mas na fúria pra falar com alguém que pudesse dar certeza.

20h10min tive a notícia: meu jogo de futebol estava arruinado. Na mochila, chuteira, meião, tornozeleira e o caramba; iam continuar lá. Michael, morto ou vivo (a essa hora, já morto), obrigou os outros jogadores a prolongar o horário de trabalho e abandonar a  pelada. Paciência, ficou pra segunda.

Na saída, passei por aquele mesmo ponto de taxi. Da porta aberta de um dos carros só dava pra ouvir que o kid is not his son.  A pobre árvore, que, evocando os rituais do vaticano, anunciou mais cedo a morte do papa do pop, estava lá, esfriada, esquecida. Viveu seu momento de Farrah Fawcett: por instantes, era a sensação do dia e bombava no twitter. Quando estava pronta para se gabar pros amigos, virou  caso de segunda página do jornal do bairro. O Sumaré News já tem uma capa melhor pra amanhã.

Ó Grande Universo, me explica?

“A insatisfação move o homem” by Petreca Senior.

Grande frase essa. Resume bem as motivações, as direções e as escolhas tomadas por todos nós em algum momento da vida. E é possível estar de fato completamente satisfeito com tudo na vida? Claro que existem momentos de pura felicidade, de puro êxtase, onde nada mais importa e você fala “poderia morrer feliz agora mesmo”. Mentira. Você ia morrer e ia ficar na bad por ter morrido e deixado pra trás várias coisas.

O homem é insatisfeito por natureza. Caminhamos sempre rumo a desordem, é o processo natural da vida, das coisas, da natureza, do Universo. Se manter organizado é que dá trabalho, gasta energia e tempo. Tudo bem que eu acabei de aprender isso com a segunda Lei da Termodinâmica, paradas de entropia e tal, e posso estar sendo influenciado pelo conhecimento recém-adquirido, mas penso que o que vale pro Universo deve valer pras pessoas também, num nível mais psicológico, mas deve, não? Tudo deve se conectar no fim das contas.

Não sei se é por algo maior, Deus ou deuses, Titãs ou carma talvez, vai saber. Não sei como tudo se conecta ainda, mas existe ordem no caos. Sempre. Existe um motivo pra desordem, pro rompimento dos hábitos comuns, existe motivo pra insatisfação, enfim. E depois vai vir outra insatisfação e depois outra e depois outra.

“E isso nunca acaba?” alguém pode pensar. Pensar no fim antes de qualquer coisa não faz sentindo nenhum. Pode ser que você morra feliz afinal e daí não vai sofrer com a próxima quebra da rotina. Quem sabe?

Texto: F. Garrido

Ao som de Six Degrees Of Inner Turbulence (Dream Theater)

Conquistador de derrotas

Nos últimos dias, eu estou transmitindo por aí o vírus de uma gripe escrota que dá uma tosse desgraçada. Ahn, mas como seria bom se fosse só isso. O trimedal, o tylenol de efeito prolongado e as mandingas de avó tão aí pra resolver o problema de qualquer um. Mais do que o mal da tosse, tô também espalhando por aí a catástrofe da derrota, e essa não tem chazinho que resolva.

Começou domingo, naquele mesmo JUCA que o F. Garrido citou, finais do torneio de handebol. Nem sou grande fã do esporte, mas no ginásio e na decisão é impossível não torcer. O meu time tava indo bem, conseguiu abrir alguns gols de vantagem, só não sabiam que ia ser impossível bater seu adversário maior: eu. Pessoal, foi mal mesmo, tava mais pé frio que o Federado, amigo nosso que usava quatro meias logo ao meu lado. Apesar do esforço deles, logo logo me fiz superior e a rede começou a balançar do lado errrado. Vice-campeões. Grande merda.

Ainda não tinha percebido que o problema era comigo. Mantive, então, as esperanças para o segundo jogo da tarde, partida final do futsal. Musiquinha de torcida, gol do adversário, vibração, gol do adversário, alto astral, gol do adversário. O errado nunca consege enxergar a situação com clareza, a culpa sempre vai pro lado de lá. Xinguei um, vomitei minhas teorias, culpei o outro. O destino ainda quis brincar um pouco e fez meu time quase empatar a partida. Foi aquele suspiro final antes do desastre definitivo. Mais um vez mostrei que sou forte e fiz meu time levar uma sacola de gols. Fui pra casa inconformado.

Passando pros jogos profissionais, nada mudou. Quarta foi a vez de secar o Corinthians frente a um adversário que parecia aguentar o tranco. Mas quem é Internacional perto dos meus ares fatais da derrota? Chupa, Inter. Hoje tô vendo o São Paulo dando desculpinhas de perdedor enquanto meu tio cruzeirense enche o saco aqui no celular (que ninguém vai atender, tiozão). Foi mal, time, a fase é brava aqui mesmo.

Scan10219 copySei lá, viu, tenho que aprender a torcer pro time errado ou viabilizar retorno financeiro para esse bode preto que voa em cima da minha cabeça. Você, amiga de casa, que nunca ganhou um par ou ímpar; você, que é mó ruinzão de bola; ou até você que insiste em jogar pelota basca, seu esporte do coração, embora todo mundo insista em te convencer a trocar por algo que você se adapte melhor – essa é a chance da sua primeira vitória. É só avisar que eu tô aí, na vibe da derrota.

eita, véi, cadê a lua?

luaFerrou. De uma hora pra outra a lua sumiu, ninguém viu mais a lua, ninguém queria mais ver a lua e todo mundo tinha raiva de quem tinha visto a lua. Mais ou menos umas 1999 pessoas se juntaram na beira do rio em assembleia cujo único ponto de pauta era tomar deliberações relacionadas ao episódio lunar. Saíram de lá como Moisés, com os 10 passos para o sucesso.

1 – Bater na porta da cidade toda.
(claro, alguém havia de saber qual é a do sumiço da Lua)

2 – Seguir os rastros
(dá-lhe sherlock)

3 – Chamar a polícia
(alô, departamento de desaparecimento cósmico?)

4 – Chamar o prefeito
(o homem não quer trabalhar?)

5 – Ir falar com um detetive
(caso você não seja eficiente em apanhar os rastros)

6 – Chamar um chaveiro para abrir a casa de toda a cidade
(é, você sabe, ninguém coopera, força bruta sempre resolve)

7 – Chamar o bombeiro
(apagar incêndios, salvar gatos, achar a lua…. tá tudo ali)

8 – Ficar escondido e esperar a devolução da lua
(não negociar com terroristas)

9 – Chamar S.O.S. Resgate
(ahn, esses bombeiros são tudo viado)

10 – Chamar o homem que pegou a lua
(deve resolver)

quem tiver informações sobre o paradeiro da Lua, favor entrar em contato com o Lucas Melo de 21 de novembro de 1994, responsável pelas informações e pela precisão dos dados.


update:
A lua foi encontrada tempos depois, suja. Foram gastos 5 dias para a limpeza.

História pa-ra-li-za-do-ra

É isso ai, mais um ano, mais um JUCA, um daqueles jogos universitários. Certa vez alguém disse que era tudo sempre igual, não importa se é da comunicação, da medicina, de direito ou do que seja. É sempre a mesma coisa, os mesmos gritos, as mesmas músicas, o mesmo clima de descontração e histórias semelhantes… Enfim, ele tinha razão.

Mas mesmo assim, vamos que vamos. Estrada, condições inóspitas, frio congelante, falta de lugar pra dormir, pessoas legais, idiotas, pessoas legais bêbadas, idiotas bêbados, os nativos sempre curiosos e aquela integração bizarra.

Sempre digo que vale a pena ir numa dessas paradas. Pra falar que foi. Até que todo mundo se diverte, mas sempre fica um gostinho estranho, pra alguns é de quero mais, pra outros é da certeza de que nunca mais vão participar. Mas pra mim não é nem uma coisa nem outra. Acho uma experiência valiosa de observação.

São pessoas no estado mais bruto possível eu acho. Se alguém começar uma relação numa dessas paradas, possivelmente esse alguém terá tido um preview do que será o fundo do poço e os highlights da sua futura tampa da panela. Mas enfim, não duvido de nada.

Mas como disse, vale como observatório do comportamento humano. Se curte isso como eu vai se esbaldar com cenas das mais peculiares.

Eu vou citar só uma porque ela resume tudo. Arquibancada do ginásio lá, aquela gritaria do inferno, bateria, cerveja, uhu yey. De um lado Mackenzie, do outro Metodista. Um xingando o outro, aquela disputa sadia. Sentei do lado da Metodista, afinal eles são laranjas, cor legal e tal. Ao meu lado um senhor já velhinho, barba por fazer, semi-sujo nas vestes de uma gincana sei lá da onde. A bateria começa seus ritmos e ele começa a sambar de leve com o sacolejar da massa. Ele olha pra mim e sorri. Como se esperando um sorriso em retribuição, um vislumbre de interação de um forasteiro simpático.

“Foi mal, cara, não é com você, mas eu não sou o cara pra essas interações” penso comigo mesmo, virando o rosto pro outro lado, perdendo um pedaço do belo jogo na quadra e evitando o olhar penetrante do bom senhor.

Passa um tempo e vejo um ser chegar e sentar ao lado dele. Bermuda de praia, óculos na cabeça, por cima de um boné e sem camisa. Esteriótipos são ruins eu sei, mas não tinha como o mano não ser de outro lugar senão da distinta faculdade laranja. Paquitão como só ele, já chega oferecendo um gole da sua bebida alcoólica. O senhor dá um belo gole, quase matando a parada e dá um aperto de mão. “Oh, que legal esse menino” deve ter pensando ele. “Oh, que legal interagir com um mendigo” deve ter pensado o sem camisa.

No grupinho do sem camisa uma menina dança alegremente, bradando sua inconfundível camiseta laranja no peito. O sem camisa chega nela e fala “ow, te dou essa cerveja, me dá sua camiseta?”. Por essa barganha acho que ela dava até mais, mas enfim, tirou o manto, ficando só um topzinho esperto e deu pro cara, que imediatamente a repassa pro mendigo, que a veste com orgulho, agora assim achando seu caminho. Vibrando, dançando, sambando e bebendo de todos os copos dos manos do sem camisa.

Ao fim do último copo e do entusiasmo, ele se retira, não sem antes dar um abraço e um aperto de mão no sem camisa, que ri satisfeito. Enquanto isso a menina sem a camiseta e o senhor descendo as escadas enquanto dá o que eu juro ser um último olhar reprovador pra minha pessoa.

Enfim, sempre curioso ver esse tipo de coisa. Enriquecedor? Não sei. Estúpido? Pode ser. Mas continuo sem saber se ano que vem eu vou de novo. A sensação da volta pra casa é muito boa. Não ter que ver o mundo em auri-roxo, só laranja ou só vermelho é legal. Que venham os paquitões e os mendigos daqui então.

Texto: F. Garrido

#mimimi

Já fui mais irritado com o mundo do que sou hoje. Embora o conformismo ainda reine sobre mim em muitos assuntos, antes ficava irritado de verdade com algumas coisas idiotas.Hoje aprendi a relevar, mas a semana curta trouxe a tona tudo de novo.

1. Porque raios as pessoas passam devagar na frente de um acidente automobilístico? What the fuck? Entendo a curiosidade humana, a morbidez e o sadismo que é a possibilidade de ver um corpo inerte e morto ali no chão, um motoqueiro sem perna, um motorista sem cabeça, sei lá. É da natureza do homem querer ver essas coisas, mas porra, justo no trânsito? Se está afim de ver corpo, dá um pulo no IML, tem várias unidades, é sussa.

2. Querer protestar é uma coisa, mas fechar os portões da USP é sacanagem. Não só me atrasa e me impede de entrar, sendo que eu to muito por fora das suas reinvidicações, como cria um inferno no trânsito daquele lugar. Não é legal. Sou a favor das reclamações justas, das manifestações, do direito a opinião livre e tudo isso, mas sou contra estupidez, idiotice e rebeldia gratuita.

3. Esse último é birra minha, mas porque pessoas usam terno e gravata com mochila nas costas? Sério, se eu fosse estudante de direito nunca usaria essa combinação bisonha. Eu não consigo levar muito a sério alguém que usa terno mas está com uma mochila verde-limão da Puma nas costas, foi mal. “Porque a Constituição … blablabla”. Cala a boca e joga essa merda fora, isso sim.

Desabafar faz bem, mesmo que sejam coisas idiotas. Era isso. Valeu.

Texto: F. Garrido

Site para as madrugadas

dinorun

Jogos em flash, quem inventou? Uma maravilha, sério. Por minutos, você é um entregador de pizza que precisa fazer o trabalho rápido para os clientes não te xingarem. Incapaz, encheu o saco da profissão? Não tem problema, agora você pode ser um dinossauro que precisa correr para evitar ser engolido pelo fim do mundo. Missão nobre. Depois, por que não arremessar bolinhas de papel no lixo do escritório? Em seguida, alinhar blocos para construir réplicas de grandes edifícios, mover vértices para evitar cruzamentos de linhas e provocar a maior reação em cadeia que for capaz. É um vício. Passei a madrugada inteira de sexta-feira nessa. Descobri uma lista com 150 opções, divididas por categorias. Se eu fosse o Milton Leite, diria “Meu Deus”. Jogos em flash são o new porn.

Vontade de participar

Sabe o que é isso? Vontade de participar.

é, tá, vivemos numa sociedade, colaboração é fundamental, salve a wikipedia e a democratização da parada toda. Mas pra que querer participar tanto?
O guarda se emocionou em apertar a mão do Obama e logo virou o cumprimentador compulsivo, que dispara sua boa vontade em quem estiver ali na frente. Talvez, nessa caso, a culpa seja do presidente bam bam bam, grande ímã da bola fora.

Se a culpa é do Obama, deixo pra lá os apertões de mão voadores. Até porque com eles, na dúvida, é tipo seta no carro, melhor pecar pelo excesso. Ainda assim, a vibe participativa ronda a vida de todos nós. Outro dia, tinha um cara no Jô que a cada 2 minutos surtava e pedia licença para contar uma de suas reflexões. Nada a ver com assunto, eram só frutos dos seus pensamentos que teve enquanto viajava pelo mundo. E não dá nem pra desmerecer, muitas vezes aquilo faz todo o sentido do mundo e mudou a vida do cara, mas pra que lançar desse jeito? Uma frase “sorte do dia” solta não vai salvar almas perdidas, cara foi mal. Nem sempre estamos com vontade de saber o que o outro está comendo, em que crise está no momento, nem os princípios que guiam a sua existência. O complicado é se achar relevante em tempo integral e assumir como função divulgar a quem estiver próximo tamanha relevância.

fuck you and your (my) blog.

Tem a história de aparecer, sentir-se parte de um grupo ou ser amigo de alguém. Ficamos tão na pilha de querer participar de certas situações que os carros vão pra frente dos bois e saem os comentários desnecessários. Sabe quando você está observando uma conversa, querendo falar alguma coisa, mas não sabe o que? Ou na frente do twitter, inventando qualquer porcaria? Eu, por exemplo, vi a mensagem do baixista do Blink escrevendo em português e tive que responder. Um idiota. devia apagar aquilo. A graça ia ser imaginar que o cara leu meu comentário e, no plano perfeito,  ver uma resposta dele para mim. Devia apagar aquilo. Nessas abordagens bizarras ou na metralhadora de frases que queremos compartilhar, às vezes a busca é pelo selo de aprovação dizendo que você é legal. Selo Mark Hoppus achou sua piada engraçada. Velha história da abordagem colaborativa e altruísta que, no fundo, é egoísta.

Vou dizer que o ponto alto foi num musical com a obra do Beatles. Tava lá na cadeira, apertado, já com aquela ideia de “tô com medo dessa apresentação ser tosca”. Tamanha a desconfiança, o que rolou no palco até me surpreendeu, a questão passou a ser outra. Duas ou três músicas foi o que levou até que os primeiros espectadores emitissem ruídos acompanhando a música. Em sete ou oito, eles já cantavam baixinho. Galera, vocês não são os Beatles, sério. No final, o pior; se o som já era extremamente irritante correndo na marginalidade da peça de teatro, virou um monstro quando autorizado: onze cantores virado pra plateia, luzes acesas, batendo palmas e pedindo a participação. Catástrofe: 53 pauls, 60 lennons, 40 georges e 10 ringos batucando na perna.