Chegando hoje no trabalho, percebi que algum grande evento tinha acontecido. Guardinhas da cet interditavam ruas movimentadas, o trânsito piorava a cada minuto e tive que estacionar numa vaga muito longe. Pude ver que o epicentro da muvuca tava bem ali na direção em que eu tinha que ir. Foi passar pelo ponto de taxi para ouvir as novas; os bombeiros tentavam apagar o incêndio numa árvore encostada em um monte de fios elétricos – a chuva só deixava o cenário mais curioso. Assim que cheguei na minha mesa, não se falava de outra coisa: era impossível estacionar e a árvore em chamas parecia mais uma árvore fumante (ninguém viu fogo). Até quem perdeu a hora no almoço tinha uma desculpa boa para o atraso. Era o acontecimento do dia.
Não, não era. Às 7 da noite, só se falava de outra coisa, tinha morrido o cara de Billie Jean, the one who will dance on the floor in the round. Pior que não foi assim “morreu e pronto”. Foi “tá quase, subiu no telhado, deve ter morrido, CNN acha que não, ah, tá em coma”. Na real, já tinha esticado as canelas finas e brancas, mas faltava alguém confirmar direito. Imagino o clima nas redações das grandes agências, matérias prontas, mas na fúria pra falar com alguém que pudesse dar certeza.
20h10min tive a notícia: meu jogo de futebol estava arruinado. Na mochila, chuteira, meião, tornozeleira e o caramba; iam continuar lá. Michael, morto ou vivo (a essa hora, já morto), obrigou os outros jogadores a prolongar o horário de trabalho e abandonar a pelada. Paciência, ficou pra segunda.
Na saída, passei por aquele mesmo ponto de taxi. Da porta aberta de um dos carros só dava pra ouvir que o kid is not his son. A pobre árvore, que, evocando os rituais do vaticano, anunciou mais cedo a morte do papa do pop, estava lá, esfriada, esquecida. Viveu seu momento de Farrah Fawcett: por instantes, era a sensação do dia e bombava no twitter. Quando estava pronta para se gabar pros amigos, virou caso de segunda página do jornal do bairro. O Sumaré News já tem uma capa melhor pra amanhã.