Tá rindo do que, Dimitri?
meu, uns malucos fazendo uma dancinha polonesa, olha a viagem
gênio
Dimitri, cara, tô fazendo um texto só sobre danças polonesas, topa ajudar?
meu, fácil. que que você precisa? vou dar uma pesquisada
beleza, a gente conversa
dança polonesa no Credicard Hall? Chama o Dimitri pra entrevistar os caras, né.
Pode crer. A cara dele
Chora, Dimitri, seus amigos agora te marcaram oficialmente como conhecedor da dança polonesa. É assim, você até acha divertido, viu uns vídeos no youtube e correu atrás de mais informações sobre o Pelé do sapateado polonês. Um pouco mais fundo, saberia até nomear um Pelé e um Garrincha da dança. E só. Nada mais do que uma bobeira de umas noites insones. Mas esses pontos já te qualificam, pelo menos pros seus amigos, como especialista. Não duvide se daqui a uns anos seu trampo seja rodar o mundo e fazer resenhas de espetáculos poloneses.
Não é lá muito fácil controlar certas impressões. E muitas vezes são elas que definem os rumos das coisas. E aí, meio sem querer, de tanto a impressão martelar, você acaba cedendo e comprando aquela ideia pra si. O cara que é chamado para falar em todos os lugares sobre programas de tv, pode nunca ter se colocado como especialista em nada, quem sabe até pensasse ser melhor em qualquer outra coisa. De tanto insistirem, compra a ideia e fica eternamente pensando naquela outra opção que apostava mais no começo, não com arrependimento, mas com curiosidade de enxergar o outro caminho onde, quem sabe, seria mais bem sucedido.
Perceber que agora carrega um título de alguma coisa é confuso. Sempre achei que os músicos fodões soubessem tudo de harmonia, lembrassem de cada ano da vida de cada um dos Beatles, escolhessem metodicamente cada trecho das suas composições, tomassem decisões a cada segundo e estivessem seguros de sua arte. E agora vem dizer que com aquele vídeo meu tocando trombone no iphone virei o fenômeno da música? Símbolo da nova geração, retrato da inquietude da geração plugada? Aquele silêncio entre o refrão e o que seria o segundo verso – falando assim até parece programado – foi culpa do SMS que chegou bem na hora e me confundiu. Não estou pronto pra ser esse fenômeno, nem sei se quero, nem sei se mereço. Fiz de zoeira, acho que sou melhor na arquitetura, na real, que é o que tô estudando.
Como um fenômeno musical da geração plugada deve se comportar? Ao redor, todos já parecem estar conformados com isso, mas eu aqui ainda luto pra descobrir como é que se faz. E eles vêm exatamente como eu imaginaria que viessem se eu de fato fosse ˜o novo alguma coisa˜. Talvez eu até o seja. Talvez meus acordes desencontrados até tenham algum significado. Não acho que sou uma farsa, mas uma parte ali veio na cagada. Eu nem esperava nada disso. A revelação do trombone de iphone nunca viu nem um saxofone de perto, e o iphone era emprestado.
Enquanto isso, o cara da chuva continua falando de chuva, o cara da ecologia defende uma teoria duvidosa, o cara dos games cobre a feira gringa e o Dimitri termina a primeira aula de dança polonesa contemporânea. Deve ser assim mesmo, acho que sou o cara da música revolucionária, só pensei que fosse ser de outro jeito.